Sexualidade infantil? Pode soar estranho para muitas pessoas pensar nisso. Alguns negam a existência de sexualidade na infância. Outros veem a ideia de desenvolvimento da sexualidade na infância como algo normal. Quando o assunto é o desenvolvimento sexual na infância surgem muitas dúvidas. Quando começa? Como orientar? Não pretendemos tratar o assunto exaustivamente, mas esperamos conseguir esclarecer alguns pontos. Vale esclarecer que quando falamos em sexualidade pensamos em algo que não se restringe ao ato sexual, mas sim em uma vivência ampla que envolve a relação com o próprio corpo, com os papéis culturais, com a identidade de gênero.
Compreendemos que o ser humano é um ser biopsicossocial. Entendemos, portanto, que a sexualidade é multideterminada. Depende de fatores biológicos, mas também do meio social e do momento histórico em que vivemos, das relações familiares e de como a criança assimila tudo isso (suas representações psíquicas daquilo que vive). Logo, é de se esperar que cada criança se desenvolva em ritmos e modos diferentes. Mas quando começa o desenvolvimento da sexualidade? Do ponto de vista biológico, a sexualidade começa na concepção. Na fecundação do óvulo já fica determinado se aquele bebê se desenvolverá biologicamente como menino ou menina. Em termos corporais, a possibilidade de variação do sexo é pequena, consistindo em diagnósticos específicos.
Já em relação aos aspectos culturais e psíquicos, o desenvolvimento da sexualidade se torna mais complexo. Depende de como a cultura lida com a sexualidade, o que é socialmente permitido e estimulado e o que é proibido. Depende da forma como os pais criam o filho/a filha e até mesmo se desejavam que fosse menino ou menina (há pais que intimamente não aceitam o sexo com o qual o bebê nasceu). Quando pensamos nos aspectos psicológicos, que assimilam a cultura, que lidam com a relação com os pais e que lidam, inclusive, com o próprio corpo, vemos que a questão se torna ainda mais complexa. Não basta ter um corpo e viver imerso em um determinado contexto sociocultural, é preciso uma mente que lide com esses fatores. Nesse sentido, compreendemos que a sexualidade se desenvolve também como uma parte do desenvolvimento mental. É consequência de uma relação mente-corpo-cultura. Daí tantas possibilidades quando se trata de sexualidade humana.
Fazemos a ressalva de que a sexualidade da criança não é igual à sexualidade do adulto. Nada justifica que se espere de crianças comportamentos próprios do adulto e enfatizamos que todas as situações que violam o estado do desenvolvimento infantil e o direito à integridade física da criança são criminosos (maiores informações podem ser lidas no Estatuto da Criança e do Adolescente http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm). Também é importante ressaltar que cabe ao adulto colocar limites para comportamentos sexuais impróprios, tanto no sentido de orientar à criança, quanto no sentido de impedir situações de abuso e violência.
Desenvolver uma identidade de gênero (o que é ser menino/menina) tanto no sentido pessoal quanto em relação aos papéis sociais, o desenvolvimento biológico e conhecimento do próprio corpo são, desde o início da vida, parte do que resultará na sexualidade adulta. Daí a importância de orientar crianças no sentido do cuidar do próprio corpo e de respeitar o corpo do outro, evitando proibições e punições que a levem a entender que sexualidade (e o sexo) é algo ruim ou errado.
Por: Carol Primo Psi