Birra, manha, chilique. Quem cuida de crianças frequentemente ouve e fala essas palavras. Quem já presenciou um intenso choro com gritos e com agitação motora por parte de uma criança, sabe o quanto é difícil lidar com esse tipo de situação. O que é melhor fazer? Deixar a birra acontecer? Satisfazer o desejo da criança? Ignorar? Repreender? Colocar de castigo? A resposta vai variar de acordo com uma série de fatores. Vamos refletir a respeito deles.
Se é que existe uma resposta certa, para que se chegue nela é preciso compreender o que a birra comunica. A ideia parece estranha? Talvez. Mas o descontrole da birra comunica um estado mental, geralmente de sentimento de intensa frustração que não pode ser contida. Se parece que a criança se descontrola à toa, tente se ver no lugar da criança. Quanto menor a criança, menor é a capacidade de falar sobre sentimentos e estados psíquicos. Quando não é possível falar com palavras, as ações falam.
Chorar, gritar, debater-se, tudo isso “fala” sobre um estado psíquico que não está sendo suportado. Leva tempo para desenvolver as condições emocionais e intelectuais para conter o sofrimento a ponto de expressá-lo de formas mais aceitáveis socialmente e que tragam menos conflitos nas relações que a criança estabelece. Pensando assim, repreender ou ceder à birra dependerá não do comportamento em si, mas de qual é a necessidade daquela criança.
Existem ainda outros fatores a serem considerados, entre eles as características da própria criança. Existem as mais tranquilas, as mais briguentas, aquelas mais manipuladoras, as mais submissas. Em termos de sofrimento e de saúde mental, os extremos são preocupantes. Crianças que não toleram frustrações, as mínimas que sejam, apresentam alto grau de angústia e, dependendo do caso, adoecimento psíquico. Crianças extremamente submissas, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não são “crianças boazinhas”, são crianças que não têm liberdade para serem quem realmente são.
Por fim, como fazemos então para ensinar uma criança a lidar com as próprias frustrações? Suportando as nossas próprias frustrações e suportando as frustrações delas. As reações extremas (de ceder a todas birras e de repreendê-las de forma extremamente repressora) costumam ser resultado da nossa falta de condição de suportar o estado mental de desespero que a birra revela. Para ajudar uma criança (e adolescentes e adultos) a lidar com suas frustrações é preciso ser capaz de suportar de forma amorosa os comportamentos que resultam dessas frustrações.
Isso não quer dizer que a criança não deva ter consequências de suas ações, quer dizer que essas consequências devem acontecer sem que se abandone o afeto e a compreensão, ou tentativa dela, do que está sendo comunicado através da birra.
Por: Carol Primo Psi