Mais um dia das crianças. Comemoramos com nossos pequenos essa fase tão importante da vida. Mas do que se trata mesmo? Uma busca simples em qualquer site de busca e o termo “dia das crianças” nos direciona para lojas e brinquedos a serem comprados. Seria o dia das crianças uma data puramente comercial? O dia 12 de outubro é considerado o dia das crianças desde 1924, mas só se tornou uma data realmente comemorada 30 anos depois, por causa de uma campanha publicitária de uma marca de brinquedos (https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-das-criancas.htm ).
Surge uma questão: presentes “estragam” as crianças? A oferta, a propaganda e o consumo de brinquedos é muito grande. Será que colocamos na ponta do lápis nossos gastos com presentes para filhos, sobrinhos, enteados, afilhados? Será que é disso que eles precisam? Como negar um presente no dia das crianças? Vale a pena deixar nossos filhos passando vontade enquanto veem as outras crianças ganhando presentes?
Vale a pena refletir sobre a questão. Mais importante do que dar ou não presente de dia das crianças é pensar no que o presente simboliza. O presente carrega um valor cultural simbólico. Costumamos presentear as pessoas que são próximas, em um ato simbólico de afeto em que o objetivo é agradar quem recebe o presente. Mas também existe o significado pessoal do presente. O significado do presente para quem dá e para quem recebe não é necessariamente o mesmo.
Podemos refletir sobre qual é nossa intenção ao presentear as crianças. Causar alegria? Agradar? Compensar nossa falta de tempo? Comprar o amor da criança? Competir com os presentes dados por outros adultos? A lista seria interminável. Da mesma forma, não temos como controlar a resposta emocional da criança que recebe o presente. O significado simbólico do presente recebido depende de muitas variáveis, muitas delas inconscientes. Além disso, ao brincar a criança atribui diferentes sentidos ao brinquedo. Não podemos pensar em um significado único para o dia das crianças e para os presentes.
Por fim, temos o significado relacional do presente. O valor do presente também é atribuído em função da qualidade da relação. Isso esvazia o sentido de questionar se presentes “estragam” a criança. Primeiro porque teríamos que definir o que é uma criança “estragada” (ou mimada). Quem define a criança dessa forma? O que pode ficar estragada ou melhor, prejudicada, é a relação. A relação entre pais e filhos não se faz em um dia. Ela é construída ao longo da vida. Pensamos que mais importante do que se questionar sobre presentes de dia das crianças é refletir sobre a relação com os pequenos. Qual é a qualidade da nossa presença com eles?
Por: Carol Primo Psi