Não são poucos os artigos, livros e entrevistas de profissionais especializados (ou mesmo de conselheiros em geral) que têm como objetivo a felicidade atual e futura de crianças e adolescentes. São diversas orientações que visam ensinar mães e pais a tomar uma série de medidas para garantir a felicidade de seus filhos. Felicidade se tornou um valor inestimável para nós, uma meta de vida.
Quem não quer ser feliz? Quem prefere a infelicidade? Não faz parte da experiência de parentalidade buscar o melhor para os filhos?
Precisamos avisar que vamos na contramão da maioria das propostas, as quais supostamente garantem a felicidade. Em primeiro lugar, definir o que é felicidade não é tão simples assim. Mesmo que não entremos em discussões filosóficas, poderíamos questionar se a experiência de felicidade é igual para todos os seres humanos. Só nesse ponto já temos uma complicação: quem disse que a ideia que os pais fazem sobre a felicidade do/a filho/a corresponde ao que realmente o/a faz feliz? Isso se torna mais evidente na adolescência, período em que a felicidade dos pais e dos filhos tende a ser definida por elementos muito distintos.
Outro complicador: seria possível criar um filho sem passar pela experiência da infelicidade? Vejamos alguns exemplos. Seu filho quer passar a noite em acordado assistindo desenhos sendo que na manhã seguinte ele tem aula. Sua filha quer fazer apenas uma refeição ao dia para conseguir emagrecer. Seu filho quer abandonar definitivamente a escola porque teve uma briga com um colega de turma. Como você se posicionaria diante dessas situações? Provavelmente em pelo menos um dos casos sua resposta levaria seu/sua filho/a a viver momentos de frustração e infelicidade.
A experiência de felicidade completa e ininterrupta é impossível para os seres humanos. Mesmo que pensemos em um estado de felicidade relativa no qual um sujeito está feliz a maior parte do tempo, ainda assim, não é um estado tão fácil de ser mantido. Criar e educar são verbos que carregam em si a missão de frustrar alguns desejos daquele que é criado/educado. Não por maldade. Nem por ideologia. Simplesmente porque a convivência humana e a nossa adequação à realidade exigem isso de nós. Faz parte do processo de crescimento aprender a lidar com as frustrações. É impossível evitar todos os dissabores das vidas dos nossos filhos.
O estado de felicidade perfeita é impossível de ser alcançado. O estado de felicidade relativa é mais provável de ser atingido, mesmo assim, parece-nos um desejo onipotente a tentativa de garantir a felicidade de um/a filho/a. Tal garantia não faz parte da experiência humana. Nossos filhos necessitam de uma série de cuidados, alguns deles causarão infelicidade, mesmo que momentânea. O desenvolvimento humano vai da dependência total à independência relativa.
Talvez a contribuição que os pais podem dar para a felicidade do/a filho/a seja auxilia-lo/a a desenvolver a capacidade de buscar a própria felicidade. Ou, ao menos, reconhecer quando não interferir na felicidade do/a filho/a.
Por: Carol Primo Psi