Em uma situação social uma criança quer chamar atenção a todo o custo. Pode ser uma festa de aniversário em que a criança, que não é a aniversariante, faz questão de ficar no centro da mesa na hora de cantar parabéns e tomar o lugar do dono da festa na hora de soprar as velinhas. Ou quem sabe uma criança se aproxima de você em um parque e além de conversar com você (um/a completo estranho/a), “gruda” e além de não sair de perto quer abraçar e pegar na mão. Criança chata, certo? Pense novamente. Cada criança tem suas características próprias. Das mais tímidas às mais extrovertidas, das mais sérias às mais sorridentes, cada uma tem sua própria personalidade.
No entanto, queremos chamar atenção para comportamentos excessivamente fora dos padrões sociais. Eles merecem atenção. Para além da chatice, certos comportamentos podem ser indícios de que algo não vai bem com a criança. Assim como a febre é um sintoma que precisa ser investigado, esses comportamentos merecem atenção. A febre pode ser causada por uma infecção. Os comportamentos excessivamente amorosos ou “aparecidos” podem ser sintoma de carência afetiva, conflitos, perdas ou faltas familiares, dificuldades adaptativas, ou mesmo uma psicopatologia. A ideia não é sairmos diagnosticando todas as crianças agitadas com alguma doença psíquica, nosso objetivo com esse texto é, sobretudo, refletir sobre alguns sinais de alerta.
Se o seu/sua filho/a se comporta de forma semelhante às cenas que foram descritas e, especialmente, se você percebe que isso causa sofrimento para ele/a ou o/a afasta do convívio social, uma boa medida a ser tomada é leva-lo/a para ser avaliado por um/a profissional da Psicologia. A Avaliação Psicológica pode identificar se há a necessidade de tratamento psicológico e propor qual é a melhor forma de ajudar a criança no momento. Entretanto, existem algumas medidas que podem ser tomadas independentemente da Avaliação Psicológica.
Sugerimos o olhar atento dos pais para a criança. Quanto menor a criança menor será a condição que ela terá para traduzir em palavras aquilo que ela sente (falar sobre sentimentos não é tarefa fácil!!!). Além de conversar com a criança, brinque com ela, ao brincar a criança comunica muitas coisas que acontecem em sua vida, principalmente aquilo que ela pensa e sente. Também converse com os outros adultos e crianças que fazem parte da vida dela. Interesse-se pela vida de seu/sua filho/a. Se você tem pouco tempo para ficar com seu/sua filho/a, invista na qualidade desse tempo. Isso não significa ser totalmente permissivo/a, mas, sobretudo, investir um olhar amoroso nele/a.
Por fim, repense a rotina da criança. Ela está sobrecarregada? Está ociosa? Principalmente, tem tempo para brincar? Brincar de verdade, livremente, apenas com os limites necessários para a segurança dela e para a convivência familiar e social. Nada contra a brincadeira pedagógica dirigida pelo adulto. Ela é importante dentro de um processo escolar, por exemplo. Mas falamos aqui da brincadeira como expressão espontânea e genuína da criança, na qual ela deposita sua imaginação, sentimentos e pensamentos.
Brincar é condição de saúde mental da criança. Não brincar é provavelmente o principal sintoma de que algo não está bem.
Por: Carol Primo Psi